01 de fevereiro de 2008
Sêmen torna o HIV mais potente
Um peptídeo transporta o vírus por entre as células das mucosas, aumentando a possibilidade de contaminação em até 100.000 vezes
por Nikhil Swaminathan
TRANSPORTE DE HIV:
Os cientistas descobriram que um fragmento de proteína encontrada no sêmen humano aumenta a capacidade de contágio do vírus HIV.
Mais de 80% das infecções por vírus da imunodeficiência humana (HIV) são transmitidas por relação sexual, e tudo indica que os pesquisadores podem ter descoberto pelo menos uma razão que explique esse fato.
De acordo com um novo estudo publicado na Cell, um componente do sêmen humano pode facilitar a dispersão do vírus ao ter como alvo as células do sistema imunológico, em alguns casos tornando o patógeno até 100.000 vezes mais virulento.A equipe de cientistas alemães havia decidido, inicialmente, determinar se o sêmen continha fatores que inibem a infecção por HIV. “Não estávamos esperando encontrar um potencializador e nos surpreendemos ainda mais com a sua intensidade“, disse o co-autor do relatório Frank Kirchhoff, virologista da Clínica da Universidade de Ulm, Alemanha. “A maioria dos potencializadores provoca um efeito duas ou três vezes maior, mas, neste caso, o efeito é incrível – mais que 50 vezes e, sob certas condições, mais de 100.000 vezes.”O HIV, vírus responsável pela AIDS, já infectou 60 milhões de pessoas em todo o mundo (causando 25 milhões de mortes), desde sua descoberta em humanos em 1981.
A taxa de transmissão por relação sexual intravaginal é estimada em uma a cada 200 a 2.000 atos sexuais.
Na África, 60% das novas infecções são em mulheres que fizeram sexo com homens HIV-positivos.Kirchhoff e sua equipe estudaram muitas das 900 proteínas encontradas no fluido seminal em sua busca de potenciais inibidores e potencializadores da transmissão do HIV.
Entre os fatores promotores descobertos estavam fragmentos de uma proteína chamada fosfatase ácida prostática, secretada pela próstata. Uma análise da estrutura do peptídeo no sêmen indicou que ele se liga a fragmentos similares para criar fibras amilóides (aglomerados de fragmentos de proteína que também estão envolvidos em doenças como o Mal de Alzheimer).
Os cientistas se referem às fibras amilóides como “potencializadores de infecção viral derivado do sêmen” (SEVI, na sigla em inglês).
Se eles não se ligam para se tornarem fibras, informam os pesquisadores, os segmentos de peptídeo permanecem inativos e não potencializam a transmissão viral.