07/02/2008

Programa das nações unidas sobre HIV/Aids elogia campanha brasileira de prevenção para o carnaval 2008

Programa das nações unidas sobre HIV/Aids elogia campanha brasileira de prevenção para o carnaval 2008
06/02/08


05/02/2008 - 10h20

Imagem da campanha de Carnaval do Ministério de Saúde

O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UnAids) afirmou que a campanha brasileira de prevenção do vírus para foliões é mais um sinal da eficiência do programa de combate à doença. A afirmação é do diretor-adjunto de Iniciativas Globais do Unadis, Louis Loures.

''Eu acho que já é uma tradição da resposta brasileira, trazer a questão da prevenção da Aids num momento cultural, de festa, como é o carnaval no Brasil, é também parte desse exemplo. Acho que, sem dúvida nenhuma, a distribuição de camisinhas tem um impacto e é parte da resposta brasileira. E a resposta brasileira é talvez hoje a melhor resposta de Aids no mundo'', disse Loures em entrevista à Rádio ONU, em Genebra (Suíça).

A campanha de prevenção ao HIV para os foliões do carnaval, que começou neste final de semana, está sendo organizada pelo governo brasileiro com ajuda de spots de rádio e TV. É uma ação que tem prevista a distribuição de 20 milhões de preservativos durante o Carnaval no País inteiro –o dobro do ano passado–, dentro dos 600 milhões previstos para distribuição ao longo do ano. Além disso, o Ministério da Saúde deve distribuir cerca de 100 mil bandanas com mensagens de sexo seguro.

Polêmica com a igreja

A distribuição de preservativos e a disponibilização, na rede de saúde, da pílula do dia seguinte, gerou protestos de líderes dogmáticos da igreja católica, como o arcebispo José Cardoso Sobrinho, da Diocese de Recife e Olinda. Numa atitude irresponsável, a Diocese chegou a entrar com processo na Justiça pedindo a proibição da distribuição de métodos contraceptivos, mas o pedido, obviamente, foi negado.

Em entrevista à revista Carta Capital, o ministro da Saúde José Gomes Temporão, criticou a atitude da igreja. ''Eu acho negativo que a Igreja Católica promova uma interferência em uma iniciativa de saúde pública respaldada pelo ministério da Saúde, pela OMS (Organização Mundial da Saúde, órgão veiculado à ONU para questões de Saúde), por pregar a abstinência antes do casamento e o sexo apenas dentro do matrimônio e com fins reprodutivos. Mas este é um dogma de uma religião, que quer estender a sua crença a todos os indivíduos, e não apenas a seus fiéis, como deveria ser'', disse o ministro.

Ele ressaltou que o Ministério da Saúde defende a utilização do preservativo como combate principalmente às doenças sexualmente transmissíveis, mas também como método contraceptivo. Quanto à iniciativa de Olinda e Recife, Temporão lembrou que essa (distribuição das pílulas) foi uma decisão da Secretaria de Saúde, que verificou por meio de estudos que a gravidez indesejada aumenta de modo considerável durante as festas e tomou uma decisão que diz respeito à saúde pública, e não a dogmas e crenças.

''Decisão essa que está em acordo com as políticas de direitos sexuais e de reprodução determinadas pelo Ministério da Saúde. Vale lembrar que a concessão da pílula do dia seguinte só pode ser feita após a mulher que praticou ato sexual e não tem certeza do funcionamento de outros métodos de concepção passar por médico que vai receitar a pílula e só assim ela pode retirar o medicamento em uma farmácia específica. Mais uma vez, há que se dizer que a iniciativa da Igreja Católica é extremamente conservadora em relação ao sexo, o que é um disparate nos dias atuais'', emendou Temporão.

Segundo ele, ''é razoável que uma determinada religião exija de seus fiéis um comportamento compatível com seus dogmas. Aí os fiéis vão seguir esse padrão de comportamento ou não. Agora querer que toda a sociedade siga esse dogma, e mais, querer interferir numa conduta médica, isso é o mais grave''.

''É como se o bispo quisesse estar assumindo o lugar do médico e arbitrar quem deve ter acesso a um determinado medicamento ou não, baseado em critérios absolutamente leigos. Em critérios que quem acredita, acredita. E quem não acredita tem o direito de não acreditar. E principalmente, chamar a atenção, porque a Igreja se separou do Estado brasileiro há muito tempo, não é? Mas parece que tem gente que insiste em querer submeter a vontade do Estado e da população a padrões filosóficos, morais e religiosos de determinados setores e de determinadas crenças. Isso é inadmissível nos dias de hoje'', disse o ministro.

Temporão finalizou a entrevista lembrando que o uso da camisinha garante a vida e impede a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, principalmente a Aids, ''que é uma doença que mata''. ''Existem 200 mil brasileiros no País em tratamento desta doença e 600 mil brasileiros são portadores do vírus. Então, nós temos uma epidemia, sob controle, mas a questão da informação, da educação e do acesso aos métodos de prevenção são fundamentais. Defender o contrário disso, aí sim, é defender a morte. Querer que as pessoas morram sem proteção, isso não é possível no Brasil dos dias de hoje''.

Gel vaginal

A atuação do Brasil contra o HIV não se restringe às campanhas de esclarecimentos. O governo Lula também tem apostado e investido em pesquisa. Fruto disso é que, em breve, o Brasil poderá exportar, principalmente para países da África, o gel vaginal desenvolvido a partir de algas marinhas para prevenir infecções do vírus HIV, causador da Aids.

A afirmação é da professora de Biologia Marinha Valéria Laneuville Teixeira, do Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), que disse que é necessário comprovar se o produto não é tóxico e se é eficaz em seres humanos. Com esses testes prontos, “o Brasil poderá exportar, com certeza”, afirmou Valéria à Agência Brasil.

A especialista conseguiu isolar o composto químico (dolabelladienetriol) extraído da alga marinha parda, encontrada em grande parte da costa brasileira. O composto foi transformado em um gel pelo professor Luiz Roberto Castello Branco, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Ministério da Saúde, parceiro no projeto.

O gel vaginal funciona como um preventivo contra a Aids em relações sexuais. “O certo é usar com a camisinha”, disse Valéria Teixeira. Ela acrescentou, porém, que em alguns países, como a África, o uso da camisinha é quase um tabu.

“Então, a gente está procurando sempre um produto que a mulher possa passar e que o homem nem tenha conhecimento. Porque nessas sociedades, principalmente nos países onde a Aids adquire um caráter epidêmico, você tem as mulheres sem muita voz e o machismo imperando. E, geralmente, o homem não quer usar a camisinha. Então, a gente faz muita pesquisa voltada para a mulher, como um fator de prevenção”, declarou a especialista.

O Instituto de Biologia da UFF já iniciou testes em camundongas. Mas, para que o gel vaginal possa ser comercializado é necessário que sejam feitos também testes clínicos, isto é, em pacientes com Aids. Valéria Teixeira informou que deverão ser efetuados testes em células humanas de colo de útero. A previsão é de que a fase clínica tenha início em 2009 ou 2010.

A pesquisadora afirmou que o produto também poderá ser adotado pelo Ministério da Saúde em programas de prevenção contra a Aids. O ministério tem apoiado o projeto, inclusive em termos financeiros.

“Interessa muito ao Brasil usar uma droga nacional para o coquetel que é dado aos pacientes de Aids. O custo é muito alto. Então, se nós tivéssemos um produto nacional para usar, seria muito bom. E o ministério tem dado apoio e incentivo que a gente precisa para trabalhar”, afirmou Valéria Teixeira.
O gel vaginal desenvolvido no Brasil apresenta um custo elevado devido à substância ativa coletada da alga. Valéria Teixeira revelou, porém, que o Instituto de Biologia da UFF já está desenvolvendo estudos, em colaboração com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para cultivar essa alga.

A idéia é que o produto possa ser obtido de maneira mais rápida, sem degradar o meio ambiente. “O que a gente quer é ter a substância sem ficar extraindo a alga do ambiente. É o desejável”, afirmou.


Fonte: Rádio das Nações Unidas e Radiobras

Agência de Notícias da Aids