cIclo de Debates analisa formas de comunicação nas equipes do PSF (12/05/2008)
O quinto dia do IV Ciclo de Debates – Conversando sobre a Estratégia da Saúde da Família tratou da importância da comunicação nas equipes do PSF. Marilene Cabral do Nascimento, pesquisadora adjunta do Icict/Fiocruz e do IMS/Uerj, apresentou resultados de um trabalho de avaliação que buscou identificar os principais interlocutores das equipes de saúde e analisar as formas predominantes de comunicação. Na seqüência, Adriana Coser Gutiérrez, da secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, apontou como a relação ‘poder x saber’ influencia o processo de trabalho e comunicação nas equipes de saúde da família.‘Avaliação da Estratégia da Saúde da Família em dois Municípios da Área Metropolitana do Rio de Janeiro’ foi o título da pesquisa apresentada por Marilene, que também é professora adjunta do Mestrado Profissional em Saúde da Família da Universidade Estácio de Sá (UNESA). Para ela, que possui formação em Ciências Sociais, a comunicação não é estabelecida apenas pela passagem da informação, mas se trata de um processo social e complexo de relação entre pessoas e grupos, identidades, afetos, projetos, interesses, diferenças de saber e poder. Já no Sistema Único de Saúde, a comunicação deve ter uma visão ampliada de saúde, além de propostas de integralidade, descentralização, participação e controle social. Porém, na sua opinião, o avanço do sistema requer outras preocupações. “O avanço do SUS exige um outro modelo de comunicação, mais coerente com a idéia de saúde enquanto direito à cidadania, inseparável da democracia”. Na Estratégia da Saúde da Família, Marilene disse que a pesquisa se caracterizou por três aspectos: identificar os principais interlocutores das equipes de saúde; avaliar o impacto desses interlocutores no processo de trabalho; e analisar as formas predominantes de comunicação.O trabalho se baseou na construção de mapas de comunicação que buscavam responder quais interlocutores influenciavam o processo de trabalho da equipe do ESF e dos agentes comunitários de saúde (ACS). As entrevistas revelaram que, para as equipes técnicas, quem traz maior impacto é o Grupo de Apoio Técnico (Gat), seguido da comunidade, do tráfico e das instituições públicas. Entre os agentes, as reuniões em equipe, o processo de capacitação e a equipe técnica foram os mais citados. “Os entrevistados apontaram o Gat como um interlocutor predominantemente autoritário e isso se deve pela cobrança às equipes. Para os agentes, as reuniões são fortemente marcadas por posições hierárquicas, como o predomínio do conhecimento técnico-científico”.Finalizando, Marilene admitiu que a pesquisa revelou alguns problemas como a predominância de formas verticalizadas na comunicação entre os profissionais de saúde – com traços de autoritarismo – e uma moldagem de comportamentos por meio da difusão de concepções médico-científicas hegemônicas. Por último, considerou que a ampliação do espaço de diálogo e negociação entre os profissionais é fundamental para a comunicação dentro do programa. “Sem este exercício interno, dificilmente a equipe poderá aprimorar a comunicação com seus interlocutores na comunidade, fragilizando, assim, a integralidade das ações e a participação popular”, avaliou.A relação entre o poder e o saberAdriana Gutiérrez lembrou que a Estratégia da Saúde da Família, mais do que qualquer outro programa na saúde, alimenta o trabalho em equipe pelo fato de combinar diversos profissionais em torno de um objetivo. Por outro lado, o conflito entre o ‘poder x saber’ dos diversos profissionais da equipe causa uma espécie de efeito dominó dentro do programa. “Os médicos exercem influencia sobre os enfermeiros que, por sua vez, têm poder sobre os técnicos, que têm autoridade sobre os ACS”.A convidada deixou clara a necessidade dos profissionais serem bem capacitados para realizar suas atividades, mas também ressaltou a importância do reconhecimento do trabalho não só pelo usuário, mas pelos colegas de equipe. “Isso muitas vezes fortalece a unidade e implica em resultados. Quando a agente resolve algum tipo de problema na sua comunidade, a nossa auto-estima fica elevada. Outra questão influente é o modelo de fazer gestão. Uma gestão participativa e democrática é fundamental em uma situação de conflito”. Adriana questionou se o trabalho em equipe não é plenamente realizado pelo fato dos profissionais não saberem como exercê-lo, por não quererem executá-lo, ou se o sistema simplesmente não permite sua realização. Mesmo assim, afirmou que é importante as equipes divergirem em alguns aspectos. “Falar uma linguagem diferente e expô-la é uma forma de enriquecer o trabalho. Pensar no trabalho em equipe é lidar com conflitos. Guardá-lo embaixo da mesa não adianta de nada. Não devemos discutir relacionamento o tempo todo, mas o conflito e a diferença de opiniões devem estar presentes”. A expositora, que também é analista de gestão em saúde da Diretoria de Planejamento Estratégico da Fiocruz, avaliou que o trabalho em equipe está relacionado à satisfação do trabalhador, aos resultados e a qualidade da atenção, ao modo de fazer gestão, à estrutura e aos arranjos da equipe. Por fim, ressaltou que a fragmentação do trabalho traz, como conseqüências, a individualização, a redução do objeto de trabalho, além da alienação do trabalhador.
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