31/03/2008

Corrupção deixa escolas sem merenda e sem banheiros

A QUESTÃO É QUE NÃO É SÓ CAXIAS, NEM TÃO POUCO SÓ NOS ÚLTIMOS GESTORES. ESSA PRÁTICA É DAS ANTIGAS!!! ALGUÉM DÚVIDA!!!????
CLARO QUE AQUI FICA EVIDENTE A QUESTÃO DA POLITICAGEM!!! AFINAL NÃO FOI SÓ NOS ULTIMOS ANOS QUE FEZ COM QUE O MARANHÃO VENHA A TER/SER UM DOS ÚLTIMOS NOS INDICADORES SOCIAIS.
ESTA REPORTAGEM É UM CONFRONTO A VINDA DO PRESIDENTE BOLIVIANO, NO MARNHÃO, PRINCIPALMENTE POR TER SIDO RECEBIDO PELO DRº JACKSON LAGO, ATUAL GOVERNADOR.

Corrupção deixa escolas sem merenda e sem banheiros

31/03/2008 12:43 Por Eduardo Faustini - Fantástico
[clique no link original, abaixo, para assistir ao vídeo da reportagem]

Na terceira maior cidade do Maranhão, crianças não têm o que comer na escola. E o banheiro delas é o mato. Sem merenda, alunos levam de casa tudo o que têm para o lanche: farinha, óleo e sal. Enquanto isso, a prefeitura compra 22 toneladas de uma carne que não existe. A reportagem é de Eduardo Faustini.

"Queria cadeira, banheiro novo, pia no nosso banheiro, quadro, merenda", enumera Isamara, de 12 anos.

O Fantástico visitou duas escolas de ensino fundamental da zona rural de Caxias, a terceira maior cidade do Maranhão. Nelas, a palavra 'escola' ainda faz sentido por um único motivo: as professoras, os pais e os pequenos alunos acreditam na educação.

Carteira destruída, arteira sem assento, encosto desfolhado, vigas do teto arrebentadas. Para esses brasileirinhos, falta quase tudo. Mas, para fornecedores da prefeitura e empreiteiros contratados pelo município, dinheiro não parece ser um problema.

"A prefeitura paga direitinho?", pergunta o repórter.
"Paga, paga. Aqui o prefeito é bom pagador", ri o engenheiro José Ribamar Serra.

Enquanto isso, ir à aula pode ser muito perigoso. Crianças caminham na beira da estrada. Elas têm pressa.

"A gente tenta chegar cedo, porque se chegar tarde, as cadeiras não prestam", conta Isamara.

Uma aluna precisa sentar no apoio do braço da carteira, colocado no lugar do assento. Para uma outra aluna, o jeito foi apoiar o caderno nas pernas, já que a cadeira não tem braço. Em cada escola, um mesmo galpão é usado por turmas de séries diferentes.

"Às vezes, quando ela canta uma música, os menino também querem prestar atenção. Eu fico parada, enquanto ela termina lá. É assim que a gente faz o nosso trabalho", desabafa a professora Rosilda Maria.

O desconforto marca até a hora de ir ao banheiro, que não passa de um cercadinho de palha. Um luxo, se comparado ao mato usado pela outra escola.

"Para ir ao banheiro tem que ir lá no mato. Não tem banheiro", conta Francisco, 9 anos.

A escola também não tem merenda.

"Eu digo: 'Meus filhos, tragam o que vocês tiverem em casa, uma farinhazinha com açúcar, com um pouquinho de sal, pimentinha-do-reino'", comenta a professora Maria da Felicidade.

"É uma tristeza muito grande ver os filhos passando fome aqui", diz Luzia dos Santos, mãe de alunos.

As duas escolas não têm merenda. Em nota, a prefeitura afirma que pode haver um ou outro caso de colégios que ainda não receberam merenda este ano.

Mas houve um tempo de fartura no município de Caxias, pelo menos, no papel. A prefeitura comprou 22 toneladas de carne em meados de dezembro de 2006. Detalhe: as crianças estavam de férias e a carne tinha de ser consumida em até 60 dias.

O conselho que fiscaliza a merenda questionou a compra. Um ano depois, o prefeito Humberto Coutinho acabou devolvendo o dinheiro. A nota fiscal da compra da carne está em nome de José Cardoso da Silva, conhecido como Zé do Bode.

Zé do Bode é funcionário da Frical, o matadouro e o frigorífico que pertence a Antônio Apolônio, que vem a ser pai do presidente da Câmara dos Vereadores de Caxias. E o Zé do Bode? Ele não aparece na nota fiscal como vendedor da carne?

Antes de se tornar prefeito de Caxias, o então deputado estadual Humberto Coutinho construiu um centro particular de saúde. O centro tinha o único serviço de tomografia computadorizada de Caxias.

Em 2002, o governo do estado comprou do deputado o centro, para transformá-lo em Hospital Universitário. Depois de ter vendido o centro, Humberto Coutinho construiu um dos maiores hospitais particulares do interior do Maranhão. O centro que virou Hospital Universitário nunca foi utilizado pelos estudantes e o tomógrafo sumiu. Um hospital que custou R$ 4,2 milhões ao contribuinte do Maranhão virou um monte de entulho, camas destruídas, leitos empilhados e equipamentos desaparecidos. Procurado pelo Fantástico, o governo do estado afirma que haverá obras e reformas no local.

"O Hospital Universitário nunca funcionou", revela Ronan Nascimento, do centro acadêmico do curso de medicina.

Mas quando fio vendido, estava funcionando. "Funcionando com todos os equipamentos, com todos os materiais, e que foram sendo roubados, foram sendo deteriorados", prossegue Ronan.

O novo hospital do prefeito é particular, mas presta serviços ao próprio município de Caxias, mediante convênio com o Sistema Único de Saúde. O Ministério Público Federal está investigando o contrato e o destino do tomógrafo que, afinal, pertence ao estado.

"A irregularidade seria que o tomógrafo, a partir de 2002, seria do governo do estado e deveria estar sendo utilizado pelo Hospital Universitário. O prefeito, na medida em que ele é dono de parte da Casa de Saúde de Caxias, não poderia ter contratado esse hospital e isso fere o princípio da moralidade administrativa, pois favorece diretamente a ele", acusa o procurador Alexandre Assunção e Silva.

No início da reportagem, mostramos um homem que gosta do prefeito. O nome dele é José Ribamar Serra, que diz ter contratos com a prefeitura.

"Você tem contato com a prefeitura?", pergunta o repórter.
"Temos alguns contratos", afirma José Ribamar.
"De obras?"
"Sim, de obras".

Só que ele admite que é engenheiro da prefeitura há 15 anos. Mas como ele pode ter uma empresa que trabalha para a prefeitura e ao mesmo tempo estar na folha de pagamento do município? Ele usa o genro e uma filha como donos da empresa.

"A empresa botei no nome dele e botei no nome da outra filha", confirma.
"Você é o que da prefeitura?", questiona o repórter.
"Eu sou engenheiro de lá", revela José Ribamar.
"E trabalha há quantos anos na prefeitura?"
"Quinze anos".
"Por ser engenheiro da prefeitura você não pode aparecer?"
"É, não posso aparecer. Tem um outro colega meu que é engenheiro, que coloco como responsável técnico".

Em Caxias, falta merenda escolar e sobra laranja, que não mata a fome desses brasileirinhos.

Link original:
http://fantastico.globo.com/Jornalismo/Fantastico/0,,AA1676968-4005,00.html