Este blog foi criado para intercambiar minhas relações profissionais. Pouco coisa será postada de cunho pessoal, reserva-se a acompanhar as relevâncias socias em diveros níveis, com conteúdos de raça, credo, gênero, políticas públicas, violência, com recorte especial as questões voltadas para área da saúde. Os assuntos postados com certeza vão servir de um banco de dados para mim, quanto para aqueles e aquelas que buscam informações nesta área.
25/01/2008
Atendimento público é colocado em xeque ( DROGAS)
Atendimento público é colocado em xeque
24/01/08
Drogas e rua: a facilidade de acesso e o baixo custo favorecem à reincidência
Médicos divergem quanto ao tratamento ideal para dependência, se ambulatorial ou internamento
´Não acredito em tratamento ambulatorial para o crack´. A tese é defendida pelo psicólogo e especialista em dependência química e fundador do Instituto Volta Vida, Osmar Diógenes Parente, explicando que a intervenção inclui mudança de hábitos, de lugares e das pessoas com quem convivem. Chama a atenção para as crises de abstinência, gerada pelo desejo da droga, chamado de ´fissura´. O psicólogo denuncia que não existe um lugar público para internar os dependentes químicos de Fortaleza. Atualmente, dos 35 internos no Instituto Volta Vida, 80% foram usuários de crack. A maioria dos usuários já experimentou mais de um tipo de droga.
Por outro lado, Marcelo Fialho, que integra o colegiado da Coordenação de Saúde Mental do Município, é categórico: ´Menos de 10% das pessoas em Fortaleza com quadro de dependência química precisam de internação´. Na sua opinião, a reforma psiquiátrica surge como uma luz no fim do túnel, no que diz respeito ao atendimento aos dependentes químicos, principalmente dando enfoque na redução de danos. Antes, o tratamento era limitado a internações em hospitais psiquiátricos.
Em outras palavras: não existe um modelo único de tratar a dependência química, justificando que não se trata apenas de desintoxicar o usuário. Ou seja, a internação é uma modalidade, como existem várias outras, explica, citando desde os 12 passos utilizados pelos Alcoólicos Anônimos, passando pela desintoxicação, entrevistas motivacionais, uso de medicamentos, entre outros.
O modelo da redução de danos é aplicado com bons resultados no Canadá e na Grã-Bretanha, não originário propriamente da saúde mentalm, mas dos programas de controle das DST-Aids. ´Existem aqueles que não podem deixar o vício e os que conseguem´, esclarece o psiquiatra, daí o objetivo do tratamento que reduz ao máximo os danos e trata as pessoas na própria comunidade. Porém, Marcelo Fialho assegura que está sendo negociado com o Ministério da Saúde a construção de uma unidade de desintoxicação em Fortaleza, o Serviço Hospitalar de Referência em Álcool e Droga.
O psicólogo Valton Miranda Jr., coordenador do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Droga (CAPs-AD) da Secretaria Executiva (SER-II) afirma que, dos pacientes atendidos no CAPs, a metade tem algum sucesso com o tratamento. Dependendo do paciente, pode resultar em internação entre 10 a 15 dias em uma das 10 unidades ofertadas pelo Hospital de Saúde Mental de Messejana.
O monitoramento da abstinência, na maior parte das vezes, é feito no ambulatório. ´A gente compreende que o uso da droga é uma fuga´, revela o psicólogo, considerando fatores importantes como a auto-estima, a vida afetiva e a construção de um projeto de vida. Estes são os fatores que contribuem para uma pessoa se tornar viciada.
DEPENDÊNCIA QUÍMICA
Média de recuperação é de 30% dos usuários de drogas
É de 30% a média de recuperação dos usuários de drogas, estima Madalena Maria Ponte de Aguiar, pedagoga com especialização na área de dependência química e fundadora do projeto Volta Israel da Associação Shalom de Promoção Humana. A idéia nasceu há 18 anos, quando a jovem entrou em contato com a realidade das crianças usuárias de cola, no Pirambu. ´Me dói muito negar uma internação para quem precisa de ajuda´, desabafa.
A procura feminina é muito grande, admite, justificando que devido à falta de recursos financeiros, ainda não foi possível abrir uma casa destinada a receber mulheres dependentes químicas. Outra necessidade é a construção de um espaço para os reincidentes. ´A dependência química é uma doença que não tem cura´, revela, ressaltando que a recaída faz parte do processo terapêutico.
A situação é ainda mais grave quando a família está envolvida nas drogas também. ´Existem casos de jovens que estão terminando o período de internação e não podem voltar para casa´. Muitas vezes, a mãe é usuária de crack ou o pai está no tráfico. Por isso, estamos pensando em construir uma casa de transição, ´mas faltam recursos´, admite.
A assistente social e coordenadora da Associação de Promoção Humana do Shalom, Solange Maria Pinheiro Praxedes, explica que o trabalho inclui também a família, completando que a média de atendimento mês é de 75 jovens, nas três unidades de internação. Elas ficam localizadas no Eusébio, Aquiraz e Itapipoca, além do semi-internato em Aracati.
A questão da droga está presente em quase todas as unidades de promoção humana do Shalom. Hoje, existem dois grupos de usuários de drogas que são: os que usam crack e os de drogas de balada, divide Madalena Maria Aguiar.
Pelo alto poder de vício, geralmente o usuário de crack emagrece logo e só vive em função da droga. Alguns acabam se marginalizando porque partem para o roubo. Os que fazem parte do grupo das drogas de baladas ´não rompem com os vínculos familiares´, completa Solange Maria Praxedes. Só que a dependência tarde acaba se instalando em ambos.
´Os prejuízos vêm mais rápido no crack´. As drogas ditas de baladas são principalmente as sintéticas como, por exemplo, ecstasy, LSD e agora tem uma nova chamada crystal, ressalta Madalena Maria Aguiar. ´A gente tem conhecimento de que nas festas essas drogas são distribuídas sendo necessária a ingestão de muita água´.
São drogas de uso eventual, mas que acabam sendo consumidas com freqüência já que em Fortaleza a diversão é de segunda a segunda, alerta.
FAMÍLIAS UNIDAS
Mãe procura ajuda no Nar-Anon
´Não quero para ninguém o que estou passando. Sei que sofro, mas o sofrimento dela é ainda maior. Por isso, vou até o fim na busca de ajuda para salvar minha filha´. A voz suave, de quem está cansada e fragilizada, contrasta com a promessa firme de que não vai descansar enquanto não encontrar um local para internar a filha.
A determinação não veio por acaso. ´Cheguei aqui chorando´, conta a mulher de 43 anos, integrante do programa Nar-Anon, que mora no Vila União. Todas as terças-feiras, se reúne com outras mães que passam por experiência semelhante: lidar com um filho dependente de droga.
Embora o problema seja semelhante, cada história tem as suas particularidades. ´Minha filha tem 14 anos e desde os 12 começou a fumar maconha, passando para o mesclado e agora o crack´, conta, admitindo que partiu dela o pedido de ajuda. Desde janeiro deste ano, a mãe começou uma verdadeira via crucis à procura de um local para internar a garota.
No começo não acreditava, lembra. Só que ela já estava dentro da favela comprando droga. Uma das preocupações da mãe, que prefere o anonimato, é como a filha consegue dinheiro. ´Dizem que um velho lá na favela dá dinheiro para ela. Ela é muito criança, ainda faz xixi na cama, tenho medo que este velho esteja abusando dela´.
Ela é uma menina muito revoltada, revela, afirmando que está sendo acompanhada por uma psicóloga, através do Conselho Tutelar. O problema da filha está pondo em risco o seu casamento. ´Ela não é filha do meu atual marido. Nem sei por onde anda o pai dela que me abandonou quando fiquei grávida dela´.
Hoje, afirma que a filha já se conformou que não tem chance de encontrar mais o pai. ´Ela tem uma angústia muito grande e é muito revoltada com a vida, por isso tenho muito carinho com ela´, revela.
COMUNHÃO
Grupo dá apoio a famílias com problemas de depedência
O anonimato é fundamental para o programa Nar-Anon de familiares de usuários de drogas, que utiliza a metodologia dos 12 passos, a exemplo dos Alcoólicos Anônimos (AA). A troca de experiência é a linha de trabalho. Não se trata de medir dor de ninguém, mas de buscar apoio. Algumas chegam desesperadas, chorando, e, com o passar do tempo, alcançam a serenidade. O objetivo é buscar forças para não fazer o que muitas famílias fazem: abandonam seus dependentes químicos.
Com a criação dos Centros de Apoio Psicossociais (CAPs) o atendimento realizado no Casarão da Criança foi redirecionado, pois o espaço até 2006 atendia a crianças e adolescentes usuários de drogas em Fortaleza. Atualmente, a Fundação da Criança e da Família Cidadã (Funci) cede o espaço para as reuniões do Nar-Anon, que acontecem às terças-feiras, das 17 às 19h, explica George Moreira Silva, educador social, admitindo que, atualmente, o crack é uma das substâncias mais consumidas em Fortaleza.
´Eles fumam na lata, misturado com a maconha ou com o cigarro comum´. Utilizam latas que são encontradas no lixo, não importa, usando a cinza do cigarro para provocar a combustão da pedra de crack, justificando que a pedra sozinha não queima.
Segundo uma das mães, o encontro entre outras pessoas que passam pelo mesmo dá mais força para enfrentar a batalha contra as drogas. ´A gente partilha nossa dor´, revela a mãe de 52 anos. Ela chegou através de indicação do Conselho Tutelar sendo feito o encaminhamento para o Casarão da Criança.
Diário do Nordeste – CE