04/09/2008

Grupo de adesão da Fiocruz para portadores de HIV ganha prêmio

Grupo de adesão da Fiocruz para portadores de HIV ganha prêmioIsis Breves

O grupo Vida Positiva, do Instituto de Pesquisa Clínica (Ipec) da Fiocruz, ganhou o Prêmio de Incentivo à Prevenção e ao Tratamento do HIV na categoria Programas em Prevenção (Secundária) às Conseqüências da Infecção, no 6º Congresso Paulista de Infectologia, em Atibaia. “Constatamos que os portadores de HIV/Aids ampliaram seus conhecimentos, fortaleceram a auto-estima e, conseqüentemente, puderam aceitar melhor os tratamentos e ter uma participação mais ativa”, afirma a coordenadora do grupo, a enfermeira Flávia Barbosa. O grupo de adesão contribui para o aumento da participação dos pacientes no tratamento e uso correto dos anti-retrovirais. “Esse prêmio é o reconhecimento de um trabalho que existe há quatro anos. O foco é a adesão para evitar, principalmente, o aparecimento de doenças oportunistas e aumentar a expectativa e qualidade de vida das pessoas que vivem com o HIV”, diz Flávia.

Flávia (de bata clara) e outros vencedores de diversas categorias da premiação
O prêmio é uma iniciativa da Bristol-Myers Squibb e da Sociedade Brasileira de Infectologia e tem como objetivo incentivar e reconhecer ações, métodos e programas que agreguem valor para a prevenção e tratamento do HIV/Aids. “O tema esse ano foi Prevenção: uma busca constante. Então enviamos como proposta a elaboração de uma cartilha educativa de prevenção de infecções secundárias para portadores de HIV que será construída pelos próprios pacientes participantes do grupo Vida Positiva”, explica Flávia.
O valor do prêmio é de R$ 15 mil reais, que serão usados na elaboração da cartilha Vida Positiva - Adote essa idéia!. O objetivo é que as cartilhas educativas sejam multiplicadores de informações abordando temáticas relacionadas à prevenção de outros agravos à saúde secundários à infecção pelo HIV. O conteúdo informativo da cartilha será selecionado a partir dos temas propostos e desenvolvidos pelos próprios pacientes que participam das atividades de educação e saúde, com o suporte e supervisão da equipe multiprofissional envolvida na assistência a pacientes com HIV/aids do Ipec/Fiocruz.
O grupo Vida Positiva
O grupo de adesão é alvo de pesquisas sobre o uso de medicamentos para portadores de HIV no Ipec. Um dos estudos sobre o assunto foi apresentado em formato de pôster no 2º Congresso da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) sobre DST-Aids, com o título Uma experiência de grupo de adesão - ações educativas de enfermagem para os pacientes portadores de HIV/Aids em uso de enfuvirtida no ambulatório de HIV/Aids do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec) da Fiocruz, com Flávia Barbosa.
Com a descoberta de terapias e a chegada dos medicamentos anti-retrovirais, conhecidos popularmente como coquetel anti-Aids, os soropositivos podem ter uma melhor qualidade de vida. Mas para que isso ocorra o paciente deve ter a consciência de que precisa tomar corretamente a medicação e assim evitar a imunodeficiência e aparecimento das doenças oportunistas.
“A adesão ao tratamento da Aids tem sido amplamente debatida. Em 2005 iniciamos um grupo de adesão em que o foco são ações educativas no Ambulatório de HIV/Aids do Ipec. Essa estratégia começou em Duque de Caxias e deu certo. Por isso, a convite da chefe dos Ensaios Clínicos em HIV/Aids, Beatriz Grinsztejn, trouxe a dinâmica para a Fiocruz. A cada dia que passa o grupo cresce e os profissionais e usuários discutem situações para melhorar a qualidade de vida dos portadores do vírus HIV. O nome Vida Positiva foi escolhido pelo próprio grupo”, diz Flávia.
São reuniões mensais nas quais os pacientes têm a oportunidade de receber informações de especialistas convidados sobre diversas temáticas que envolvem a doença, como nutrição, terapêuticas, sexualidade, exercícios físicos, prevenções de doenças oportunistas e questões relacionadas com o viver com o HIV/Aids. Além disso, a abordagem grupal favorece a troca de experiências, reforça a auto-estima e permite apoio mútuo. “Esse espaço é fundamental para mim. Essa troca de idéias, metas e incentivos favorece a levar o tratamento e fazer planos. Recebemos dicas, capacitação sobre a importância de tomar corretamente a medicação e não desistir da vida. Tempos atrás eu estava estendido numa cama, porque não tomei a medicação e fui acometido pela neurotoxoplasmose, uma doença oportunista que ataca o organismo quando nossa imunidade baixa. Hoje estou aqui servindo de exemplo vivo de que vale a pena tomar o coquetel”, conta V. G., 47 anos, professor que em 2000 descobriu que estava infectado.
Segundo C. S. B. de 56 anos, que descobriu ser paciente de Aids em 1997, quando foi diagnosticado após tratamento para a tuberculose no intestino, “a troca de experiências e as dicas dos especialistas, que tiram nossas dúvidas, evitam o abandono de tratamento e acabam com a estigmatização. Esse grupo é muito importante para nós e sempre digo para os nossos colegas: a matemática do corpo é 90% do pescoço para cima e 10% do pescoço para baixo. Com a mente boa e consciente da doença, podemos ter uma vida positiva”.
Em 48 meses, 500 pacientes participaram dos grupos e várias temáticas abordadas. Todas foram coletivamente discutidas e numerosas propostas apresentadas. Em torno de 25% dos pacientes, que não utilizavam adequadamente seus medicamentos, passaram a fazê-lo. O grupo é aberto não só aos portadores de HIV, mas também aos seus familiares e convidados que desejam participar. A equipe de profissionais de saúde é multidisciplinar e composta por Flávia Barbosa (enfermeira e coordenadora do projeto), Alberto Lemos (infectologista), Ana Cristina Rohën (assistência social), Sheila Rosado (farmacêutica) e Eliane Caldas (psicóloga) e Suelen Marques (informática).
Publicado em 02/09/2008.
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