A América Latina é uma das regiões com o maior índice de desigualdade social no mundo. E o Brasil, infelizmente, ocupa lugar de destaque, como pode ser observado no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) a cada ano.
Além do IDH, a representação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) de cada país publica o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), que ajuda a levantar os problemas mais críticos para a qualidade de vida e o bem-estar da população mundial.
Esse tipo de relatório começou a ser feito em 1990. Dois anos depois, Camarões e Bangladesh foram os primeiros países a produzir o seu relatório nacional. O Brasil teve seu primeiro relatório nacional feito em 1996 e o mais recente em 2005, este com o tema central “Racismo, Pobreza e Violência”.
O Pnud Brasil prepara agora a confecção de um novo relatório para 2010, coincidentemente o ano em que o IDH completa 20 anos. “Até hoje o Brasil fez dois relatórios e um atlas. Agora teremos a oportunidade de produzir um relatório diferente, porque não se limitará a dados técnicos e estatísticos, mas começará com uma consulta à sociedade”, disse Flávio Comin, coordenador da campanha Brasil Ponto a Ponto. Entre as inovações estão a formulação de cadernos, o fato de ser escrito e distribuído para o grande público, a inclusão de uma análise crítica e propositiva de novas maneiras de medir o IDH e a viabilização do comprometimento pelos governos com ações práticas e mudanças concretas.
A campanha tem como principal objetivo escolher o tema do próximo relatório brasileiro por meio de uma consulta pública. “O que estamos propondo nunca foi feito antes: uma consulta aberta, ampla, por adesão e com uso de instrumentos diferenciados como a internet, para que toda a população possa participar”, disse Flávio. Ainda segundo o coordenador da campanha, só com a ajuda da opinião pública será possível descobrir fatos relevantes a serem levantados pelo relatório. “Normalmente os temas são escolhidos ou pelas coordenações regionais ou pelos governos, com resultados muito parecidos. É importante pensarmos em novas perspectivas”, afirmou.
Um segundo objetivo é a promoção da discussão pública sobre os grandes problemas nacionais dentro de uma perspectiva de desenvolvimento humano. Na opinião de Comin, apenas por meio da reflexão e da discussão é possível perceber o que é mais importante para a cidadania plena. “Às vezes, o que é importante para a vida de uma pessoa pode não ser tanto para outra, como a riqueza, por exemplo. O que queremos é explorar esse conceito de satisfação e autovalorização”, disse.
Os trabalhos começaram em novembro de 2008, quando foram ouvidas 2.500 pessoas em audiências públicas e visitas técnicas. “Nessas ocasiões, foram consultados órgãos de governo, organizações da sociedade civil para entender as demandas da população sobre problemas e sugestões de temas para o relatório. Foram realizadas audiências públicas em Belo Horizonte, São Paulo, Belém, Brasília, Porto Alegre, João Pessoa e Rio de Janeiro”, ressaltou o coordenador do projeto.
Além disso, durante mais de um mês o Pnud visitou os dez municípios brasileiros de menor IDH – Traipu (AL), Manari (PE), Guaribas (PI), Caraúbas do Piauí (PI), Araioses (MA) e Santana do Maranhão (MA) –, a fim de fazer uma leitura mais inclusiva dos problemas sociais. E ainda foram convidados a participar dessa consulta 4.000 cursos de pós-graduação em todo o Brasil. “O Portal dos Voluntários e o Pnud disponibilizaram em seu site uma enquete para que a população pudesse responder à consulta”, lembrou Flávio.
Consulta pública
A partir de agora e até o dia 15 de abril, qualquer pessoa pode dar sua resposta para a pergunta “O que precisa mudar no Brasil para a sua vida melhorar de verdade?”. É só acessar a página http://www.brasilpontoaponto.org.br/ e postar sua opinião, escrita ou gravada em vídeo. “Por meio dessas contribuições, estaremos construindo um relatório a partir dos brasileiros, dos indivíduos, das pessoas”, declarou Comin. Sua equipe espera contar com mais de 1 milhão de participações até o final da pesquisa.
De acordo com ele, com a ajuda de parceiros serão abertos outros canais para que as pessoas possam expressar sua opinião. “Sabemos que muitos ainda não têm acesso à internet. Então firmamos parceria com uma empresa de telefonia celular para que o participante possa enviar um SMS com sua resposta. Além disso, contamos com outras formas de apoio, como o de uma empresa de cosméticos que fará a pesquisa entre suas mais de 750 mil consultoras e seus clientes”, disse.
Outro parceiro importante, segundo Comin, é o Conselho Nacional de Educação (Consed), que levará a pesquisa para as escolas públicas de 18 Estados brasileiros. “Com isso atingiremos 1 milhão de alunos. Se metade desse contingente responder, já será um grande passo.”
É importante destacar que a pesquisa e o relatório não fazem parte da formulação do IDH mundial, que se utiliza de fórmulas matemáticas e conceitos declaradamente ultrapassados para definir o bem-estar de uma população. “Hoje, o IDH compara três dimensões que são o conhecimento, a saúde e o padrão de vida. As formas de se contabilizar essas informações há muito tempo vêm sendo questionadas. Mas não é nossa intenção reformular esses padrões, até porque é um relatório regionalizado. É claro que com o levantamento dos resultados surgirão informações que poderão transformar-se em propostas que ajudarão a melhorar a coleta de dados e a obtenção de resultados. Mas não é essa a intenção principal da campanha”, alertou Comin.
Para ele, é cada vez mais evidente que as pessoas aspiram a mais do que dinheiro para ter melhor qualidade de vida. “Nos primeiros resultados, observamos que têm sido muito valorizados pela população itens como melhor qualidade da educação e a formação de valores por meio dela, solidariedade e respeito ao próximo e implementação de políticas públicas de inclusão. Essa nova metodologia implantada pela equipe da campanha quer mostrar aos brasileiros que sua opinião conta e que a riqueza de um país está na sua gente”, finalizou.
Por Fabrício Ângelo (Envolverde), de Brasília. Edição de Benjamin S. Gonçalves
Este blog foi criado para intercambiar minhas relações profissionais. Pouco coisa será postada de cunho pessoal, reserva-se a acompanhar as relevâncias socias em diveros níveis, com conteúdos de raça, credo, gênero, políticas públicas, violência, com recorte especial as questões voltadas para área da saúde. Os assuntos postados com certeza vão servir de um banco de dados para mim, quanto para aqueles e aquelas que buscam informações nesta área.
12/03/2009
Brasil ainda deve ao IDH
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