16/12/2008

Avaliação de projetos sociais entra na pauta das empresas

Avaliação de projetos sociais entra na pauta das empresas
1/12/2008 – A pesquisa Avaliação de Investimentos Sociais no Setor Privado, divulgada pelo Instituto Fonte e pela Fundação Itaú Social, analisa o planejamento e a aplicação de verificações de impacto das ações sociais corporativas no Brasil. No levantamento, 137 das 211 empresas pesquisadas (75%) afirmaram avaliar suas intervenções sociais. Segundo especialistas, o número destoa da realidade.
O primeiro indício do descolamento aparece a partir da comparação com os dados do Censo GIFE 2007-2008. Ali, 64% das fundações e 53% das empresas associadas ao Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) declararam realizar avaliações de suas iniciativas sociais. “Essa é uma amostra mais qualificada, preocupada com o amadurecimento e com o papel político de seu investimento e, portanto, mais propícia a realizar avaliações”, aponta Daniel Brandão, consultor associado do Instituto Fonte.
Já 43% do grupo analisado por Brandão são empresas que não estão aliadas a entidades representativas de práticas no terceiro setor, embora o estudo também comporte membros do GIFE e do Instituto Ethos (20% fazem parte dos dois grupos). “Nossa amostra é representativa da realidade das empresas brasileiras, que mescla posicionamentos mais e menos maduros em relação ao investimento social ”, afirma o especialista.
Outra pista é a falta de informação sobre os recursos investidos nas avaliações. Mais de dois terços das empresas (69%) afirmaram não saber o quanto gastaram em avaliação em 2006 e 75% não sabem estabelecer a quantia aplicada no último ano. Para Brandão, os dados sustentam a hipótese de que ou essas instituições não a realizam ou a prática não é um tópico formalizado dentro do orçamento dos projetos.
“Mesmo que elas não avaliem, as respostas apontam que o tema já é um discurso, ou seja, as pessoas percebem sua importância”, conclui o consultor. A consciência ainda leva quase a metade dos entrevistados (44%) a garantir que os resultados influenciam sua estratégia de investimento social em comunidades.
Processo participativo
O desenvolvimento de processos participativos foi apontado por 10% dos entrevistados como um dos desafios para a avaliação de projetos sociais. Saber trazer os beneficiários das iniciativas para a discussão e descobrir como julgar suas posições são formas de fortalecer os processos de análise. “Vinda de diretores de marketing, de sustentabilidade e de comunicação social, a postura revela uma tendência ao abandono de um modelo gerencialista que dominou as avaliações a partir dos anos 90”, Brandão revela.
Isso porque a cultura de gestão trazida ao terceiro setor pela expansão do investimento social corporativo significou, em grande parte, na mera transposição intersetorial de tecnologias. Para o especialista, o movimento é perigoso. “É importante que a avaliação entre na pauta de discussão por influência do segundo setor, mas a teoria e a prática dessas questões devem ser desenvolvidas dentro do campo social”, afirma. O objetivo é fortalecer a criação de uma disciplina - com ferramentas, métodos e campos teóricos - própria do terceiro setor.
A questão inspirou mais uma pesquisa do Instituto Fonte e da Fundação Itaú Social. Com o estudo Identificação e Análise da Produção Acadêmica Brasileira sobre Avaliação de Projetos Sociais, a pesquisadora Martina Rillo Otero quis identificar se a academia está preocupada com essa questão e se, eventualmente, pode atender um campo com potencial de crescimento. “Se levarmos em consideração apenas os investidores privados, é um campo que investe de mais de 3 bilhões de reais por ano”, aponta Brandão.
A análise de bases eletrônicas de pesquisa desde 1970 até hoje identificou 130 dissertações de tese que estudaram a avaliação. Destas, 37% se dedicavam ao estudo de caso de iniciativas do setor público, 32% de ações do setor privado e 11% se debruçam sobre o debate conceitual da questão.
Os dois levantamentos serão disponibilizados ao público no site do Instituto Fonte.