02/10/2008


Pesquisa traça perfil da violência física familiar em São Paulo

Renata Moehlecke

Um estudo de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) determinou o perfil epidemiológico da agressão física familiar no município de Araçatuba (SP). Foram analisadas 7.750 ocorrências registradas na Delegacia de Defesa da Mulher da região entre os anos 2001 e 2005, sendo que 1.844 desses registros estavam relacionados à violência física intrafamiliar. A pesquisa, publicada na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, concluiu que 81,1% das agressões ocorrem entre casais, 11,6% entre pais ou responsáveis e filhos e 7,3% entre outros familiares.


Mais de 80% das agressões investigadas ocorreram entre casais (Ilustração: Centro de Informações sobre Saúde e Álcool)


“Foi possível traçar o perfil tanto da vítima quando de seu agressor, mesmo que este se limite aos casos registrados pelas ocorrências policiais”, explicam os autores da pesquisa no artigo. “Tais informações podem ajudar a compreender as circunstâncias em que ocorreu a violência, contribuindo para a prevenção e enfrentamento do problema”.

Os resultados também apontaram uma maior freqüência de agressões entre casais nos finais de semana (38,9%), sendo o ciúme o motivo mais relatado (21,5% dos casos). Além disso, nos três grupos estabelecidos - casais, pais e filhos, e outros familiares -, o período entre 12h e 24h teve o maior número de registros. O atual companheiro foi o agressor mais freqüente no primeiro grupo e os pais no segundo, embora em mais de um quinto dos casos tenham sido os filhos que agrediram os responsáveis. Os irmãos prevaleceram entre os agressores no terceiro grupo. “Cerca de um quarto a um quinto dos agressores estava alcoolizado no momento da agressão”, afirmam os pesquisadores.

A pesquisa ainda revelou que a maior parte das agressões aconteceu em casa e que 98,3% dos agressores eram homens, enquanto 98,7% das vítimas foram mulheres. Outro dado destacado foi que, quando as agressões ocorrem entre pais e filhos, crianças e adolescentes representam grande parte das vítimas: 34,3% e 33,8%, respectivamente, predominando as meninas entre os adolescentes. Em relação à faixa etária, considerando ambos os sexos, indivíduos mais jovens, com idade entre 20 a 34 anos, predominam como agressores (43,7% dos casos). “Eram adolescentes 3,8% dos agressores e 5,2% das vítimas tinham idade maior ou igual a 60 anos”, comentam os pesquisadores.

Nos três grupos verificados, os laudos médicos se mostraram semelhantes. “As lesões, em sua grande maioria, eram leves e localizavam-se, principalmente, na cabeça e nos membros superiores, sendo as equimoses e as escoriações os tipos de lesões mais freqüentes”, relatam os autores. “Poucas vítimas referiram ter procurado atendimento médico, sendo grande o número de laudos sem esta informação”.

Os pesquisadores esclarecem que iniciativas de cooperação entre diversos setores, como saúde, educação, serviços sociais, justiça e política, são indispensáveis para resolver o problema da violência. “Mas, para que se possa planejar e desenvolver ações voltadas à prevenção dos casos e à assistência das vítimas de violência familiar, são necessários dados que permitam visualizar e compreender a situação”, concluem.

Publicado em 29/9/2008


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